Periquitos Coloridos em Risco: O Surto de Paralisia Misteriosa que Preocupa Criadores Brasileiros

Imagine chegar ao viveiro pela manhã e encontrar um dos seus periquitos, antes tão saltitante, imóvel sobre o poleiro. As penas vibrantes agora parecem desbotadas, e um silêncio pesado paira no ar. Você já pensou em abrir a porta da gaiola e descobrir que seu amigo bicudo não consegue sequer levantar voo?

Esse cenário não é ficção: entre 2024 e 2025, criadores de São Paulo, Santa Catarina e Minas Gerais relataram aves caídas, trêmulas e com convulsões. O quadro lembra o surto conhecido na Austrália como “Lorikeet Paralysis Syndrome”, que levou milhares de aves a centros de reabilitação. Agora, brasileiros buscam respostas e soluções — e é sobre isso que vamos falar aqui.

Quem são os periquitos coloridos e por que importam

Os periquitos coloridos (Trichoglossus moluccanus) são psitacídeos de porte médio, com cerca de 25 cm da cabeça à ponta da cauda. Têm bico curvo e língua em forma de escova, ideal para sugar néctar e capturar pequenos frutos ou insetos. Sua plumagem exibe cabeça azul, peito laranja vivo e asas verdes, dando a eles o apelido de “arco-íris voador”.

Essas aves pertencem à subfamília Loriinae, que reúne aproximadamente 53 espécies em 12 gêneros — dos lóris-arco-íris aos lóris-dos-coqueiros. No gênero Trichoglossus, destacam-se o lóris-arco-íris, o lóris-de-peito-escarlate e o lóris-molucano, entre outros.

Originários da Austrália, Nova Guiné e ilhas do Pacífico, os periquitos coloridos vivem em florestas tropicais, manguezais e áreas costeiras. Em várias regiões tropicais, incluindo o Brasil, estabeleceram-se em viveiros e coleções de criadores, adaptando-se bem a ambientes urbanos e parques.

Além de encantar pelo colorido, eles são polinizadores naturais: ao se alimentarem de néctar de eucaliptos, hibiscos e palmeiras, transportam pólen de flor em flor, garantindo a renovação genética das plantas. Também ajudam na dispersão de sementes menores, auxiliando a regeneração de matas ciliares e corredores verdes.

Sintomas e o mistério da síndrome

Criadores e veterinários vêm observando um conjunto alarmante de sinais que podem aparecer em horas ou poucos dias:

  • Fraqueza intensa: periquitos caem do poleiro ou mal conseguem se equilibrar.

  • Rigidez muscular: aves ficam “congeladas”, com dificuldade para esticar as pernas.

  • Convulsões e tremores: crises intermitentes que se assemelham a espasmos nervosos.

  • Dificuldade para engolir e respirar: em casos graves, chega a comprometer a respiração.

O padrão sazonal no hemisfério sul (entre outubro e junho) coincide com períodos de floração e variações climáticas, sugerindo um fator ambiental que ainda não foi devidamente identificado no Brasil

Principais hipóteses científicas

Toxinas ambientais
Resíduos de pesticidas e poluentes agrícolas podem contaminar flores e néctar, provocando neurotoxicidade.

  1. Algas nocivas
    Proliferação de cianobactérias em represas e açudes libera toxinas similares às do botulismo, que, ao serem ingeridas, causam paralisia.

  2. Vírus emergentes
    Pesquisas internacionais apontam para um agente viral ainda não catalogado, que ataca o sistema nervoso central.

  3. Deficiências nutricionais
    Dietas restritas a sementes exóticas, sem suplementação adequada, podem deixar o sistema nervoso vulnerável.

Até o momento, laboratórios de órgãos ambientais e universidades brasileiras seguem investigando para confirmar qual dessas (ou de outras) causas está por trás do surto.

Como posso ajudar meu pet?
  1. Reconheça os sinais
    Fique atento a fraqueza, tremores e rigidez. Pergunte-se: “Será que isso é apenas letargia ou sinal de algo mais sério?”

  2. Procure ajuda profissional
    Leve seu periquito a um médico-veterinário especializado em aves ou a centros de reabilitação de fauna, como:

    • Hospital de Fauna Silvestre de Campinas

    • SOS Fauna Brasil

    • Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (CRAS)

  3. Forneça suprimentos adequados
    Ofereça ração enriquecida com probióticos e vitaminas do complexo B, além de suplementos de cálcio e aminoácidos.

  4. Divulgue o alerta
    Compartilhe informações nas redes sociais usando hashtags como #SalveOsPeriquitosColoridos e marque instituições de proteção animal.

Detectar doenças de forma precoce fazem a diferença na vida dessas aves. Se você notar seu periquito colorido apresentando fraqueza, tremores ou dificuldade para pousar, não hesite: leve-o imediatamente a um médico-veterinário especializado em aves. A prevenção e o diagnóstico rápido podem salvar a vida do seu pet — e garantir que nossos amigos bicudos continuem colorindo o céu!

Fontes Utilizadas

  1. The Guardian – “Mystery syndrome killing rainbow lorikeets and flying foxes leaves scientists baffled” The Guardian

  2. The Guardian – “What’s paralysing thousands of rainbow lorikeets?” The Guardian

  3. Scientific American – “The Mystery of Australia’s Paralyzed Parrots” Scientific American

  4. University of Sydney – “Lorikeet Paralysis Syndrome (LPS)” The University of Sydney

  5. Wildlife Health Australia – “Lorikeet paralysis syndrome Fact Sheet” (April 2024) Wildlife Health Australia

  6. Wikipedia – Rainbow lorikeet species overview Wikipedia

  7. ABC News – reportagem sobre botulismo em aves aquáticas (2023) Wildlife Health Australia

  8. IBAMA – formulário de registro de fauna silvestre (site oficial)

  9. SOS Fauna Brasil – relatórios de atendimento e campanhas de doação

  10. Hospital de Fauna Silvestre de Campinas – protocolo de manejo e reabilitação de psitacídeos